Vidas imaginadas na migração Norte-Sul: europeus na Bahia da globalização

Abstract

O presente estudo sobre a migração de europeus para a Bahia nas últimas décadas procura explicar um movimento migratório que, não se restringindo ao móvel econômico e ao modelo comunitário, é impulsionado por processos individualizantes e uma consciência de matiz cosmopolita. Tal movimento pode ser visto como resultante da atual globalização cultural, em que a multiplicação das conexões planetárias estimula a imaginação social e incita indivíduos de todas as partes a se desterritorializarem, fazendo da mobilidade um recurso integrado aos seus projetos de vida. Analisando a vinda desses indivíduos ao Nordeste brasileiro para residir, o estudo traz à discussão, por um lado, o imaginário sobre a globalização e a emergência de uma subjetividade contemporânea , e por outro, os imaginários sobre o “outro continente” na interação entre a Europa e a América Latina, que terminam por inserir o Brasil nos projetos de vida de migrantes europeus de perfil aventureiro e cosmopolita, que vivem “lá e cá”. Buscou-se também verificar como o país se construiu como destino para aqueles que optaram por viver sua vida no hemisfério sul, para em seguida contrastar a sua vivência concreta com a “vida imaginada” no sul global. Levando em conta as dimensões subjetivas e objetivas que trazem esses europeus ao Nordeste brasileiro, vemos entrar em operação o imaginário de um mundo interconectado em que alguns países e regiões emergem enquanto outros retrocedem, numa hierarquia das nações em transformação segundo critérios que hoje contemplam a qualidade de vida, a humanização das relações interpessoais e a ampliação do espaço de realização individual, que podemos depreender do discurso dos migrantes estudados.

My research on the migration of Europeans to Bahia over the last decades seeks to clarify a migratory movement which , while not restricted to economic motivations or a community pattern , results from rather individualizing processes and a new “cosmopolitan consciousness”. Such movement can be seen as an outcome of present cultural globalization, whereby the multiple planetary connections stimulate social imagination and induce individuals all over the world to deterritorialize themselves making mobility part and parcel of their life projects. This study brings into discussion the imaginaries on globalization and the emergence, on the one hand, of a contemporary subjectivity, and, on the other hand, of new representations on “the other continent” in the interaction between Europe and Latin America, that have inserted Brazil in the plans of migrants with a relatively adventurous and cosmopolitan profile. It was a main purpose to see how the country was built as a destination for those who chose to live in the south hemisphere, for later to contrast their concrete experiences with their “imagined lives” in the global south. Taking into account both the objective and subjective dimensions that bring those Europeans to the Brazilian Northeast , one sees coming into operation the traditional narrative of our interconnected world , wherein some countries and regions emerge while others “submerge”. Such a hierarchy of nations apparently is now undergoing change on account of new subjective criteria that value aspects such as “quality of life”, the humanization of interpersonal relationships and the widening of self-accomplishment perspectives. All this can be drawn from the discourse of the migrants under study.